Conférence de Roberto Zular, professeur du département de Théorie littéraire de la Faculté de Philosophie, Lettres et Sciences Sociales de l’Université de São Paulo
A poesia feita nos anos 1970 no Brasil provocou um forte abalo no modo como pensamos a relação entre poesia e história, bem como no próprio conceito de historicidade com o qual procurávamos dar conta desse acontecimento literário. Ao trazer para o primeiro plano de elaboração formal a própria enunciação, deslocando o espaço privilegiado do poema para articular vozes heterogêneas em diferentes cenas enunciativas, como também ao acionar de outras formas a relação com o corpo e com as normas (poéticas e sociais), a poesia brasileira produziu novos modos de transferência entre o ato poético e os tempos e contextos que ele coloca em relação.
Embora esse não seja um traço exclusivo dessa poesia, a pregnância e a intensidade desses elementos sugerem um outro regime de historicidade que procuraremos delinear tendo como ponto de partida as propostas de Henri Meschonnic em diálogo com historiadores e outros críticos que trataram desse período. Nossa hipótese é de que, se o agenciamento da enunciação e o fluxo de vozes e tempos não é uma novidade, o modo específico como se dá a acoplagem entre esses campos heterogêneos é determinante.
Partindo da análise de alguns poemas dessa década, colocaremos em relação poemas anteriores e posteriores, procurando mostrar como esse regime de historicidade afeta o modo como lidamos com a própria historicidade da poesia, abrindo espaço para pensarmos em outras articulações e novas formas de inteligibilidade dessas relações.
Roberto Zular é professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo. Juntamente com Álvaro Faleiros e Viviana Bosi organizou o livro Sereia de Papel – visões de Ana Cristina Cesar e com Claudia Amigo Pino Escrever sobre escrever – Uma introdução crítica à crítica genética (Martins Fontes). Organizou também o livro Criação em Processo – ensaios de crítica genética (Iluminuras). Desde 1993, dedica-se aos escritos de Paul Valéry e sua recepção entre os poetas brasileiros, o que o levou ao estudo da poesia moderna e contemporânea, especialmente quanto às relações entre corpo, linguagem, historicidade, ritmo e voz.